Suspeitos em desviar 30 milhões de reais já estão nas ruas

O ex-prefeito de Três Corações (MG), Fausto Ximenes (PSDB), apontado pela Polícia Federal como cabeça do esquema de fraudes no processo de licitações da prefeitura, deixou a penitenciária no início da tarde do domingo (22). Ele se entregou à polícia na quarta-feira (18), um dia depois da Operação “Metástase 57” ter sido deflagrada em cidades da região. Clique em Leia Mais e confira notícia completa.

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Ex-prefeito de Três Corações deixa penitenciária da cidade (Foto: Lucas Magalhães/Reprodução EPTV)Ex-prefeito de Três Corações deixa penitenciária da cidade (Foto: Carlos Cazelato)

O ex-prefeito deixou a prisão acompanhado do seu advogado de defesa, as três filhas, o filho e o genro. O prazo de prisão temporária do ex-prefeito terminava neste domingo. O advogado Gustavo Chalfun, que representa Ximenes, informou que irá analisar as provas documentais para prosseguir com a defesa.

O ex-vice-prefeito de Três Corações, Sergio Auad, e o presidente da Câmara de Vereadores, Altair Nogueira, deixaram a penitenciária da cidade na tarde do sábado (21). Na quinta-feira (19), o juiz Adriano Leopold Busse negou o pedido de prorrogação da prisão temporária dos suspeitos presos na operação da Polícia Federal.

Carro foi buscar ex-prefeito dentro da penitenciária; Fausto Ximenes deixou local acompanhado dos filhos, do genro e do advogado de defesa (Foto: Carlos Cazelato / Reprodução EPTV)Carro foi buscar ex-prefeito dentro da penitenciária; Fausto Ximenes deixou local acompanhado dos filhos, do genro e do advogado de defesa (Foto: Carlos Cazelato )

Além dos dois políticos, foram soltos no mesmo dia o empreiteiro Marcos Penha de Oliveira, e o ex-secretário da gestão passada Washington Ximenes. Outros suspeitos teriam deixado a penitenciária neste sábado, mas a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) não informou os nomes. Os investigados deixaram a penitenciária acompanhados dos advogados de defesa.

Habeas Corpus
Nesta sexta-feira (20), seis pessoas presas na operação conseguiram alvará de soltura e foram liberadas da Penitenciária de Três Corações. Foram soltos o ex-secretário da administração atual, Alexsandro Henrique de Souza, a presidente da comissão de licitação, Lucimara Dias Rezende Alves, a ex-chefe de gabinete da Secretaria de Governo, Aparecida das Graças Salviano das Dores, a chefe do Setor de Licitação Sálua Neder Borges e um dos empresários detidos na operação.

Tatiana Vilela Carvalho, que atualmente ocupava a pasta de Meio Ambiente na Prefeitura de Três Corações (MG), foi liberada na noite da quinta-feira (19) por contribuir com as investigações da Polícia Federal, segundo o delegado João Carlos Girotto.

Situação dos detidos
Os homens foram divididos em duas celas, inclusive o ex-prefeito Fausto Ximenes, que se entregou um dia após a operação para a PF. As mulheres ficaram na ala feminina em cela isolada das demais presas. As celas da penitenciária medem cinco metros quadrados e possuem três beliches, uma pia, um vaso sanitário e chuveiro. Como a prisão é temporária, os presos só podiam receber visitas dos advogados e não dos familiares. Segundo a Secretaria de Estado de Defesa Social, não houve nenhum incidente com os presos e ninguém passou mal.

Ex-vice-prefeito, presidente da câmara e outros dois investigados são liberados de penitenciária em Três Corações (Foto: Lucas Magalhães/Reprodução EPTV)Ex-vice-prefeito, presidente da câmara e outros dois investigados são liberados de penitenciária em Três Corações (Foto: Lucas Magalhães)

O Ministério Público Estadual já havia iniciado um inquérito civil no ano passado para apurar denúncias de improbidade administrativa dentro da Prefeitura de Três Corações. Agora, com o resultado desta operação, quatro promotores foram designados para trabalhar especialmente nestes casos. Eles estão recebendo e analisando os pedidos de revogação da prisão temporária.

No sábado (21), mais uma pessoa investigada por suspeita de fraudes no processo licitatório durante a gestão passada se entregou para a Polícia Federal. Carlos Eduardo Pereira, empresário de Lavras (MG), foi ouvido durante a manhã pelo delegado João Carlos Girotto. Em seguida, ele foi encaminhado para a Penitenciária de Três Corações.

O advogado de Carlos Eduardo, Nérgis Rodart, informou que o investigado se entregou espontaneamente e que irá colaborar com as investigações. Ele ainda não vai se pronunciar sobre as acusações.

A Polícia Federal ainda espera a apresentação de mais uma pessoa suspeita de participação no esquema que é considerada foragida. Ao todo, 31 pessoas foram levadas para a Penitenciária de Três Corações.

Ex-prefeito de Três Corações é levado para a Penitenciária em camburão da PF (Foto: Reprodução EPTV / Lucas Magalhães)Ex-prefeito de Três Corações é levado para a Penitenciária em camburão da PF (Foto:/ Tarcísio Silva / Claudemir Camilo)

Ex-prefeito como cabeça
Para a Polícia Federal, o cabeça do esquema é o ex-prefeito Fausto Ximenes. Ele se apresentou nesta quarta-feira (18) para a PF e prestou depoimento por mais de cinco horas. Depois, foi levado de camburão para a Penitenciária de Três Corações.

Saiba quem são os suspeitos presos pela Polícia Federal em Três Corações (Foto: Editoria de Arte g1)

A Operação “Metástase 57” prendeu 34 pessoas. Entre elas, empresários, ex-secretários e o ex-vice-prefeito Sérgio Auad. Entre os envolvidos estão também Tatiana Vilela Carvalho, que era secretária de Meio Ambiente da atual gestão e Alexsandro Henrique de Souza, que até esta semana, era secretário de Administração do município. Ambos foram exonerados. O atual presidente da Câmara Municipal, Altair Nogueira, também está preso.

As investigações da Polícia Federal em conjunto com a Receita Federal começaram em maio do ano passado após denúncias de irregularidades em contratos feitos pela Prefeitura de Três Corações.  “Encontramos indícios de peculato e corrupção em contratos nas áreas de pavimentação, shows e eventos, limpeza urbana, transporte público, merenda escolar, artigos para escritório e mobiliário, aquisição de medicamentos, serviços de internet, aquisição de software, publicidade e locação de imóveis e obras contratadas pela prefeitura”, enumerou o delegado da Polícia Federal Leopoldo Soares Lacerda, durante coletiva de imprensa na terça-feira (17).

Os 100 processos analisados estão relacionados a diversas áreas, entre elas saúde e educação. O desvio de dinheiro público pode chegar a R$ 30 milhões. De acordo com as investigações, as empresas vencedoras das licitações pertenciam a funcionários da prefeitura ou tinham alguma ligação com os secretários municipais. “O que acontecia é que uma empresa de serviços era  contratada pela prefeitura, mas ela não executava o serviço. Ao invés disso, a própria prefeitura fazia o serviço, gerando mais custos, mas a empresa contratada recebia o valor pelo trabalho”, explica Lacerda.

Fraudes em processos de licitação
As investigações apontaram que os contratos firmados pela prefeitura eram superfaturados. No caso da compra de medicamentos da empresa Acácia, de Varginha(MG), a Polícia Federal afirma que os valores chegavam a ser 30% maiores do que os de mercado.

Em entrevista à EPTV Sul de Minas, uma ex-funcionária de uma das empresas investigadas no esquema explicou como tudo funcionava. “O pedido vinha da prefeitura, várias folhas. Quem colocava o valor exato que era para sair na nota era o gerente e de acordo com esse pedido, com os valores que ele colocava, era feita a nota de saída. Só que esta nota de saída, a pedido do gerente, depois de pronta, vários dias depois, ela era cancelada e feita uma nota novamente com o valor maior”.

Nas contratações de shows feitas com a empresa Benassi Eventos, a informação é de que a prefeitura pagou R$ 100 mil pelo show de uma dupla sertaneja. No entanto, o valor cobrado pelos produtores para o mesmo show é de R$ 60 mil. A mesma situação ocorreu com outro show, que no contrato, tem o valor de R$ 70 mil, mas que normalmente sai por R$ 20 mil. Outra irregularidade investigada na operação é de que alguns envolvidos tinham empresas em nome de outras pessoas, conhecidas como laranjas.

Ainda de acordo com Girotto, alguns requisitos do processo de licitação eram alterados para que empresas que não poderiam participar fossem contratadas. “Por exemplo, algumas das empresas tinham dívidas com a União, ou com o Estado, e não tinham a Certidão Negativa de Débito. Aí esse requisito era retirado do processo de licitação para que a empresa envolvida no esquema pudesse participar e ganhar o contrato”, afirma.

O esquema, segundo Lacerda, envolvia ainda a contratação de empresas em que os proprietários eram servidores da Prefeitura Municipal, o que é vedado por lei. Os auditores da Receita Federal investigam ainda crime de sonegação fiscal, mas nenhum valor foi informado durante a coletiva.

Segundo o auditor fiscal e coordenador da operação, Rôney Freire, a Receita Federal vai analisar todos os documentos apreendidos na operação. O objetivo é identificar o que de fato é ilícito. Os envolvidos podem ter que devolver os valores desviados ou ter os bens bloqueados. Todas as provas encontradas serão encaminhadas ao Ministério Público, que dará prosseguimento à denúncia. Ainda não há uma data de quando o trabalho será concluído.

O outro lado
Em nota oficial distribuída à imprensa, a Prefeitura de Três Corações informou que “apesar da atual administração não pactuar com qualquer desvio de conduta, preocupa-se com os servidores envolvidos, esperando a solução final da justiça para que possa se posicionar e tomar as devidas providências. O município de Três Corações espera que a justiça prevaleça e que apure as devidas responsabilidades”.

O advogado Gustavo Chalfum, que está na defesa de Washington Ximenes, um dos ex-secretários que foram presos pela Polícia Federal, entrou com o pedido de habeas corpus e disse que a defesa atua no sentido de provar que a prisão dele é desnecessária. Washington Ximenes ocupou duas pastas na administração passada. Ele foi secretário de Desenvolvimento Econômico e secretário-adjunto de Planejamento.

Chalfum representa também o ex-prefeito Fausto Ximenes e disse que entrou com um pedido de habeas corpus para o político. Ele ainda não comentou o caso. O advogado do presidente da Câmara, Adriano de Oliveira Silva, disse por telefone que não vai comentar o assunto, já que o processo corre em segredo de Justiça.

O advogado Alisson Craveiro Chagas, que representa o ex-secretário de Obras, Tadeu Eustáquio Siqueira de Paula; o atual secretário de Administração, Alexsandro Henrique de Souza; a secretária de Meio Ambiente, Tatiana Vilela Carvalho; a chefe da divisão de licitação, Salua Neder Borges e Tiago Mesquita Pereira, disse que ainda não pode dar uma posição sobre o caso porque ainda não teve acesso às provas documentais da Polícia Federal. Ele conseguiu o alvará de soltura para Alexsandro, Tatiana e Sálua. Segundo a Prefeitura de Três Corações, Alexsandro Souza e Tatiana Pereira já foram exonerados dos cargos.

Segundo o gerente de marketing da Trectur, empresa responsável pelo transporte coletivo em Três Corações, de propriedade de Ronier Máfia Rodrigues, que também foi preso, a empresa não irá se posicionar por enquanto. Ainda segundo ele, o setor administrativo da empresa está analisando as provas apresentadas no inquérito da Polícia Federal.

A Acácia Medicamentos, envolvida nas investigações, foi procurada, mas nenhum representante quis falar sobre as denúncias. Os responsáveis pela empresa Maqpel e Logus Papelaria também prefiriram não comentar a investigação. O gerente do Supermercado do Bié, Paulo César Soriano, também disse que a empresa não vai falar sobre as investigações por enquanto. A empresa Benassi Eventos foi procurada, mas ninguém atendeu as ligações.

O advogado do ex-vice-prefeito Sérgio Auad, ainda não se manifestou sobre o caso e a advogada do empresário Carlos Alberto Gobbi, Ivana Gobbi, não quis se pronunciar sobre o caso.

Casa do Pelé
Um dos alvos da operação, a réplica da casa onde Pelé viveu durante a infância, foi inaugurada em 23 de setembro de 2012. De acordo com a investigação da PF, a obra foi orçada em R$ 147 mil e uma construtora de Três Corações foi contratada para executar o serviço. A empresa recebeu o valor da obra, porém não fez o serviço, de acordo com o delegado Lacerda, mas a construção foi executada pela própria prefeitura.

Pelé visitou réplica de casa onde viveu, alvo de operação da PF (Foto: Divulgação Polícia Federal)Prefeitura executou obra da Casa do Pelé e empresa contratada para serviço ficou com o dinheiro, segundo PF (Foto: Samantha Silva / G1)

“Ainda está sendo apurado, mas ao menos mais R$ 200 mil foram gastos na obra [da casa do Pelé] viabilizados por um contrato ‘de fachada’ com outra empresa, e usado para custear a reforma”, afirmou o delegado Lacerda.

Na inauguração da casa, em setembro de 2012, o Rei Pelé esteve na cidade para visitar a casa e levou uma multidão para as ruas. A réplica da residência foi construída no mesmo local onde ficava a casa onde o Rei do Futebol viveu durante a infância.

Suspeita de corrupção de menores
Em maio de 2013, o presidente da Câmara dos Vereadores de Três Corações, Altair Nogueira, já havia sido alvo de suspeita de corrupção de menores durante uma festa em um sítio em Varginha (MG). Nogueira e o dono de um jornal de Três Corações foram convocados a prestar depoimento para uma comissão da Câmara dos Deputados que investigava turismo sexual de menores no Brasil.

Presidente da Câmara de Três Corações aparece em imagens de festa em Varginha (Foto: Reprodução EPTV)Presidente da Câmara de Três Corações aparece em imagens de festa

A convocação foi dada após fotos e vídeos da festa, que aconteceu em 2011, irem parar na internet. Nas imagens, duas mulheres aparecem fazendo poses sensuais e praticando sexo com os suspeitos. No registro, é possível ver duas jovens, uma delas menor de idade e que, segundo ela, iria fazer 16 anos na época.

Segundo Girotto, a Polícia Federal investiga indícios de que, no dia em que o presidente da câmara estava na festa em Varginha, diárias de trabalho foram pagas ao vereador. “O que consta é que ele deveria estar trabalhando nesse dia, as diárias foram pagas, mas o que as imagens revelam é que a situação era outra nesse dia”, afirmou o delegado.



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